Pregação e estudos

Recomeçar a Missão – A igreja depois da assunção de Jesus

A Igreja em Missão
Subvertendo os poderes do mundo 

“Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui,os quais Jasom hospedou. Todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei.” (Atos 17:6b,7)

Coloque-se um pouco no lugar dos discípulos que viram Jesus ascender aos céus. Imagine passar três anos de sua vida testemunhando todo tipo de milagre e enfrentando oposições e depois se encontrar sem a presença física do maior mestre que esse mundo já viu. Não parece fácil, não é mesmo? É assim que eu imagino que os discípulos tenham se sentido ao testemunharem a ascensão de Jesus Cristo em Atos 1. Mas o próprio Senhor prometeu que eles não estariam sozinhos. Eles receberiam o Consolador e seriam revestidos de poder. Nesse momento de retomada de nossas vidas, precisamos nos lembrar dessa promessa para levarmos a missão de Deus a frente. Somos o povo de Deus em uma comunidade empoderada pelo próprio Espírito para testemunhar em toda a Terra.

A Comunidade do Poder

O livro de Atos narra a expansão da Igreja pelo mundo mediterrâneo antigo. Essa expansão se dá pelo Espírito, que reveste de poder as testemunhas de Cristo (1.8). A mentalidade dos discípulos ainda estava na formação de uma nação política autônoma, que se libertaria do poder romano e assumiria sua primazia entre os povos (1.6). Mas a história contada no livro é outra. Não é a de um poder político estabelecido em Jerusalém no lugar do poder romano. É de um poder vindo dos céus sobre a Igreja e que desafia os poderes do mundo, seja o de Jerusalém, seja o de Roma.

É nesse sentido que entendemos as palavras dos judeus tessalonicenses em Atos 17.6: “esses que tem transtornado o mundo chegaram também aqui”. O poder do Espírito inverte todas as ideias dos poderes mundanos. A estrutura do livro de Atos mostra isso. O livro começa em Jerusalém, onde se recebe o poder vindo do céus, e termina em Roma, onde o Evangelho é pregado com liberdade. O centro do poder não é a capital imperial, mas a cidade onde Jesus Cristo morreu e ressuscitou. O Pentecostes é uma oposição ao projeto de poder babilônico. A torre de Babel era uma demonstração do poder humano contra o divino. Um plano dos homens de fazerem um nome para si, fixarem-se em um lugar e dominarem sem limitações. Deus impede seus planos dividindo os homens em povos e línguas diferentes, para que um limitasse o outro. Em Atos, Jesus mesmo promete que ao receberem do Espírito os discípulos iriam até os confins da Terra como suas testemunhas. No pentecostes pessoas de vários povos ouvem a palavra e clamam pelo nome de Jesus, no qual são batizados (2.38). A limitação das línguas não impede o testemunho, pois cada um ouve em seu próprio idioma. Esse evento não celebra a separação dos povos na busca do poder mundano, mas a união de pessoas de todas as nações e línguas sob o poder de um único Espírito.

A Comunidade do Espírito

Esse agir do Espírito não só potencializa o indivíduo para testemunhar sobre Cristo, mas cria uma comunidade que é centrada na doutrina dos apóstolos, na comunhão, nas orações e no partir do pão (2.42). A solidariedade era um sinal desse agir, tanto quanto os sinais e maravilhas. E nesse testemunho a Igreja crescia na graça do povo e os salvos eram acrescentados. A Igreja não é um grupo de propagandistas do evangelho. Não é a “força de vendas” de Jesus Cristo. Ela é a comunidade cuja vida é a vida do próprio Cristo. Dinamizada pelo próprio Espírito de Deus, ela é testemunha do Evangelho tanto em sua pregação, quando em sua vida. Nesse sentido, agir contra a vida da Igreja é agir contra o próprio Espírito (5.3). Deus escolheu uma Igreja para manifestar os sinais do seu reino divino e testemunhar de sua redenção.

A Comunidade Missionária

Em Atos, a própria Igreja está em missão. Os refugiados de Jerusalém em Antioquia são os que ganham os gentios da cidade, ao ponto dos apóstolos enviarem Barnabé para observar o que se passava por lá (11.19-22). Essa Igreja missionária é também a Igreja que envia Paulo e Barnabé em missão. O envio de missionários não pode ser uma “terceirização” da atividade missionária, mas um transbordar de um estilo missionário da Igreja.

A Comunidade Livre

O livro de Atos termina com o Apóstolo Paulo preso em Roma. Ali, contudo, ele tem a liberdade de pregar o Evangelho na capital do império. Esse paradoxo é parte do “transtorno” causado pelas testemunhas de Cristo. Uma vez que seu Reino não é terreno, os poderes do mundo não o podem deter. Isso é mostrado na libertação de Pedro (At. 12) e depois na de Paulo e Silas (At. 16).

Conclusão

Ainda que tenhamos grandes desafios em nosso tempo, não podemos esmorecer. Precisamos nos lembrar do poder, do Espírito, da missão e da liberdade que recebemos. Não há situação ou força adversa que possa nos impedir.

Pr. Cacau Marques

cacau marques

cacau marques

Marido, Pastor, Professor, Historiador e Podcaster.