Pregação e estudos

Juventude e violência

Sem visão não há envolvimento. Ser um jovem cristão e não se preocupar com o estado crítico que muitos adolescentes e jovens estão vivendo é escolher um estilo de vida indiferente aos problemas que estão na calçada de nossas casas. Não podemos ficar alienados ao que está acontecendo em nossas cidades. Transformados e capacitados com a experiência da graça podemos contribuir e criar iniciativas para servir à paz da cidade.

Em tempos em que a violência é tão presente, é preciso reafirmar que Deus é contra a violência e que ele se compadece da juventude brasileira! A fé cristã deve lançar luz sobre a realidade e buscar um esclarecimento para os grandes problemas contemporâneos, bem como criar estratégias de intervenção que sejam manifestações da graça de Deus.  Jesus Cristo afirmou várias vezes “Deixo-vos a minha paz, “Paz seja com vocês!” Disse também,  “felizes são os pacificadores” e que deveríamos oferecer a outra face”.

O Deus do Evangelho é um Deus de paz, que veio fazer as pazes com uma humanidade em conflito espiritual, social e psíquico. Sua intenção é renovar a criação, reconciliar o mundo a Si e restaurá-la das marcas do pecado, cujo a violência é um dos seus sinais. Por isso, como jovens cristãos precisamos  contribuir pela transformação da realidade juvenil do Brasil promovendo a vida e se engajando para um cultura de paz.

As múltiplas faces da violência

De acordo com Wievioka, um dos maiores estudiosos desta área, o fenômeno da violência se manifesta em todas as épocas da história da humanidade, mudando suas faces em função das configurações sócio históricas; por isso se trata de um fenômeno complexo e multifacetado.

De maneira geral podemos dizer que violência envolve privação, negação, aniquilação e diminuição do outro. É sempre uma ação que faz do outro menos gente. Qualquer ato de exploração, dominação, agressão física ou emocional pode ser caracterizado como violência. É uma violação dos direitos do outro.

Existem diversos tipos e naturezas da violência. Quanto ao tipo, podemos classicar as formas de violência como: violência estrutural, autoinflingida, interpessoal e coletiva. A violência estrutural refere-se aos processos sociais, políticos e econômicos que “cronificam”  a fome, a miséria e as desigualdades de todas as ordens. Ela está na base de outras manifestações de violência. Os comportamentos suicidas e o autoabuso podem ser classificados como violência autoinflingida. As violências interpessoais  podem ser de dois tipos: intrafamiliar e comunitária. A primeira geralmente ocorre no ambiente de casa e envolve parceiros íntimos. Neste âmbito ocorrem violência contra o gênero, contra as crianças, idosos, adolescentes etc. A violência comunitária se expressa nas ruas, nas escolas,  nas prisões, em locais de trabalho e também em asilos, envolvendo agressões físicas, abusos e assaltos. Já as violências coletivas referem-se àqueles que acontecem nos âmbitos macrossociais, políticos e econômicos, como atentados terroristas e crimes de multidões.

Quanto à natureza, podemos mencionar a violência física (uso da força para produzir feridas em outro); a violência psicológica (agressões verbais ou gestuais para aterrorizar, humilhar, rejeitar e isolar o outro do convívio social); a violência sexual (ato ou jogo sexual imposto por meios de aliciamento, imposição e ameaças); e a violência do abandono, negligências  e privação de cuidados necessários a alguém que deveria receber atenção, como idosos, crianças e pessoas com  necessidades especiais.

Algumas formas de enfrentamento das violências:

Desnaturalizar a violência

A violência está nas falas, brincadeiras, nas séries, nas novelas, nos jogos de futebol. A violência não é apenas uma questão de natureza humana, mas também de configuração sócio-cultural ; cada vez mais ela está naturalizada na cultura.

Ser contra qualquer expressão de violência até nas brincadeiras

Nossas igrejas não podem ser espaços de reprodução de uma cultura da violência que se expressa na desvalorização do outro pela sua diferença. Pelo contrário, temos que adotar um estilo de vida pacífico e que promova a cultura de paz. Assim, sejamos contra brincadeiras que diminuam o outro ou criem situações vexatórias e humilhantes.

Negar a cultura do autoritarismo e ser um jovem com padrão de masculinidade bíblico

Como estamos em uma sociedade com marcas de autoritarismo e machismo, devemos pensar que homem não é aquele que se impões pela força. Ser grosseiro, agressivo na maneira de falar e de agir não são sinais de masculinidade com os padrões bíblicos. O homem bíblico é aquele marcado  por ouvir a Deus e obedecê-lo por amar a Deus e as pessoas.

Criação de projetos de protagonismo juvenil

Nossas igrejas e ministérios jovens têm um potencial enorme de criação de projetos que envolvam, além dos membros da igreja, os jovens da comunidade. Uma alternativa é a criação ou fortalecimento de projetos de educação para a cidadania. Projetos que viabilizem espaços de reconstrução de valores éticos e morais, com a participação da juventude como ponto chave, ou seja, criação de projetos cujo protagonismo juvenil seja valorizado, contribuindo, assim, para a formação do projeto de vida do jovem.

Orar pelos jovens que sofrem os efeitos diretos da violência

Todas as manifestações das violências têm impactos em quem as comete, em quem as sofre e em que as presencia. A violência que atinge a juventude tem impedido a vida de muitos jovens (que morrem antes do que deveriam), muitas  famílias perdem seus filhos e o sorriso de adolescentes vitimizados por desprezo, agressões e humilhações. Nos bancos das nossas igrejas e nas nossas programações existem jovens que sofrem os efeitos da violência! É preciso orar pela libertação de jovens que sofrem os efeitos físicos, psicológicos e sociais da violência. O adolescente criado à tapas e agressões tem necessidade de experimentar o amor libertado de Jesus Cristo!

Para não concluir

A violência sofrida, percebida ou infringida pela juventude é um fenômeno extremamente complexo em suas causas e consequências, e esta problemática social precisa de atenção especial do Estado e da Sociedade Civil.

Os jovens cristãos podem ser protagonistas de outra história, de outra sociedade. Já tem gente fazendo, pessoas se mobilizando para um novo mundo de solidariedade, de mãos estendidas para convivência harmônica. O Espírito de Deus investe nos jovens para que criem uma paixão pela vida e lutem contra toda forma de opressão e banalização da existência.

Gilciane Abreu

Gilciane Abreu

Ministra

Teóloga e Pedagoga. Ministra de Juventude PIB em Vitória – ES
Luis Leão

Luis Leão

Pastor

PIB de Cuiabá – MT, Doutor em Ciências na área de Saúde Pública