Roteiros

PG 29+ Quebrantar de novo

“Registra, tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em teu livro?” Sl. 56. 8

 Autor: Geandre Moret – pastor de adolescentes e jovens da Segunda Igreja Batista em Parnamirim/RN, formado em Direito e Teologia, Mestre em Ciências da Religião, integrante do coletivo musical Insomnica, autor da ficção cristã “Os romances vão falar de nós”, membro da equipe editorial da Revista Estudos de Religião, co-responsável pela Juventude Batista Norteriograndense, colaborador da coordenadoria 29+ da JBB, professor do Seminário Teológico Batista Potiguar, nerd, portovelhense, flamenguista, esposo da Valeria e pai da Cecília.

Dinâmica quebra-gelo:

O líder distribui pequenos pedaços de papel em branco e canetas a todos os participantes. Após todos receberem, o líder então diz que dará exatamente 30 segundos para que todos reflitam e escrevam no papel, sem que ninguém mais veja, o nome do pior ser humano que já pisou a face da terra. O líder dispara o cronômetro e o encerra precisamente ao fim dos 30 segundos. Nesse momento, o líder oferece a oportunidade de um ou mais participantes compartilharem suas escolhas, voluntariamente, e as razões de elegerem determinada pessoa. Após eventuais participações, o líder pergunta aos presentes qual a razão de aquela pessoa ser um pecador pior do que ele próprio. A pergunta final pode ser “Por que os pecados dos outros costumam parecer mais graves do que os nossos próprios pecados?”. Enfim, o líder apenas lê I Tm. 1. 15.

 

Dicas musicais:

“Primeiro Amor”, Rebanhão.

 

Texto inspirativo:

 

“‘As lágrimas derramadas durante a oração são um sinal da misericórdia de Deus pelo qual a alma foi considerada digna no seu arrependimento: o arrependimento é acolhido e a oração através das lágrimas purifica, lava de todo o pecado cometido’. Sim, nenhuma lágrima será perdida, e quando a nossa história for lida, que é também história de pecados, se tivermos chorado com compunção, então ela será também história das nossas lágrimas, […]”. Enzo Bianchi, O dom (cristão) das lágrimas, Monastério de Bose, abril de 2019.

Nascemos chorando, mas, com o tempo, a habilidade de chorar passa a ser condenada. A verdade bíblica, contudo, é que precisamos aprender a chorar de novo. Aprender a chorar pela dor do outro, de novo. E aprender a chorar pela nossa própria condição, de novo. Para sermos novos de novo.

Nenhum pecado pessoal é pequeno. Enquanto não confessado e arrependido, todo pecado afasta a alma temporariamente impura de um Deus eternamente santo (Is. 59. 2). Todo pecado insistente criando raízes no coração deveria ser razão suficiente para se chorar por si mesmo e por sua própria fraqueza e incapacidade.

O pecado da avareza, por exemplo, é explicitamente condenado em Ex. 18, Mc. 7 e outros textos. Por isso, o cristão que se preocupa demais com dinheiro e bens, ao invés de levar com naturalidade o fato de ser sempre o sujeito que só sabe conversar sobre mineração de bitcoins no churrasco da galera, deveria, na verdade, estar diariamente, no seu quarto fechado, de joelhos, encharcando seu lençol e clamando pela poderosa graça de Deus sobre suas tão desgraçadas fraquezas.

O pecado do culto ao corpo também é condenado em Pv. 6, I Pe. 3 e outros textos. Por isso, o cristão que vive querendo converter todo mundo ao evangelho do crossfit, deveria, na verdade, viver derramando lágrimas sinceras diante do Deus que quer tratar seu coração vaidoso.

O pecado da mentira é igualmente condenado em Pv. 13, Jr. 10 e outros textos. Por isso, o cristão que acha normal metralhar fake news freneticamente por aí, deveria, na verdade, plantar lágrimas no chão das suas orações humildes, aos pés daquele que é a própria Verdade.

Já deu para entender. Avareza, culto ao corpo, mentira, cobiça, contenda, fofoca, injustiça, murmuração, preguiça e mais uma porção de ciladas sempre fisgam o coração de cada um de nós, sem exceção. Não há um justo sequer (Rm. 3. 10). A diferença essencial é que há quem admita, confesse, se arrependa e lute intensamente contra seus pecados; e há quem justifique, relativize, domestique e normalize os seus pecados. Em outras palavras, há quem realmente chore amargamente pelos seus pecados, e há quem, na prática, só dê de ombros e abrace de uma vez a petrificação do seu coração pela cauterização da sua consciência.

Poucos exemplos bíblicos seriam mais comoventes, nesse ponto, do que Simão Pedro. Pedro, que, entre outros tantos vacilos, negou a Jesus, fria e publicamente, três vezes. O mesmo Pedro que logo depois, em Lc. 22. 62, ao se dar conta do tamanho da sua insensibilidade para com Jesus, “chorou amargamente”. Ali, Pedro não chorava por ninguém mais. Pedro chorava por si mesmo. E não era um choro egoísta, mimado, imaturo. Era o choro da dor de se reconhecer miserável. A dor de olhar no espelho da própria alma e parar de fingir que não é mesmo o pior dos pecadores. E essas lágrimas, nós, também, precisamos aprender a chorar de novo.

Como Davi, que chorou pela imundície do pecado grotesco que cometeu contra Deus, contra Bate-Seba, contra Urias, contra todo o povo que liderava e contra seu filho recém-nascido, enquanto ele estava vivo (II Sm. 12. 22). Enquanto pôde, Davi chorou amargamente, clamando a misericórdia de Deus e reconhecendo sua própria nojeira. E essas lágrimas, nós, também, precisamos aprender a chorar de novo.

Que a gente aprenda com Enzo, com Pedro e com Davi. Que a gente ore e peça sinceramente a Deus que dobre nossa dura cerviz, e nos faça escancarar em lágrimas honestas, diante dEle, de nós mesmos e do outro, os nossos pecados mais vis, para que, então, enfim, comecemos a ser realmente curados da doença de sermos nós mesmos (Tg. 5. 16). Precisamos, todos os dias, nos quebrantar de novo.

Que a gente seja, outra vez, grandes o suficiente para reconhecer como somos pequenos. Que a gente de novo reveja nossos conceitos e valores enlameados por pecados acalentados. Que a gente de novo reconstrua a imagem de Cristo que nossas quedas insistentes desfiguraram. Que a gente de novo olhe para trás, nos melhores dias da nossa relação com Cristo e consiga ver as bonitas primeiras obras que ele realizou em nós, debaixo da camada de poeira dos anos de cinismo que podem ter vindo depois. Que a gente se arrependa de novo, com todas as nossas forças, cheios de fé no poder de um Deus que se aperfeiçoa em nossa fraqueza. Que a gente volte de novo ao primeiro amor, com as lágrimas mais sinceras de quem admite quem realmente é, mas também acredita em quem ainda pode ser, pela infinita Graça de um Pai tão amoroso.

 

Muitas vezes o nosso problema com o choro é que ele nos expõe, revelando a outros os nossos sentimentos mais íntimos. Isto nos força a ser vulneráveis e honestos com alguém, e requer humildade ao admitir que somos, de fato, fracos e inadequados. Mas, como cristãos, não necessitamos encontrar a nossa identidade em estar sempre bem ou em provar que as nossas vidas são ótimas. O evangelho nos libertou disso. O nosso valor e justiça foram aperfeiçoados em Cristo, que promete nos usar em nossa fraqueza. A nossa própria salvação depende de confessar a nossa fraqueza e impotência para que possamos receber o perdão e a salvação. As lágrimas podem expor nossa fraqueza. Mas admitir a fraqueza é exatamente o que necessitamos fazer.” Sarah Phillips, É bom chorar de vez em quando, Coalizão pelo Evangelho, agosto 2020.

Perguntas para discussão

Você sabe dizer para você mesmo qual é o seu pecado mais desafiador de vencer? Você já pediu ajuda espiritual a algum cristão sobre isso? Você acredita no que diz Tg. 1. 16, “confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo pode muito em seus efeitos”?

Dicas para aprofundar a reflexão

Nos próximos sete dias, procure alguém confiável com quem você possa realmente se abrir sobre os seus pecados. Pense especialmente em um dos seus pastores ou líderes, se possível. Ali, abra seu coração em relação aos pecados que você tem tido mais dificuldade de vencer. Não esconda nada. Seja transparente. Pode ser um passo doloroso e aparentemente constrangedor, mas você estará sendo profundamente bíblico, e apenas obedecendo Tg. 1. 16. Iniciativas como essa geram relacionamentos espirituais mais profundos, um compromisso de prestação de contas e uma sensação importante de leveza terapêutica. Aceite o desafio.