Roteiro PG

29+ | Onde importa?

Texto bíblico: Mateus 7. 26, 28.

Autor: Geandre Moret é pastor auxiliar na Segunda Igreja Batista em Parnamirim (Rio Grande do Norte), mestre em Ciências da Religião, membro da banda Insomnica, integrante da coordenação da Juventude Batista Potiguar, colaborador da JBB 29+, professor do Seminário Teológico Batista Potiguar e autor da ficção “Os Romances vão falar de nós”.

Roteiro

Dinâmica quebra-gelo:

O líder deve comprar alguns bombons, mostrar ao grupo e pedir a todos que se movam para um local afastado, de onde não enxerguem o local de reunião. O líder deve esconder um bombom a cada rodada, e então convidar os presentes a retornar e encontrar o bombom escondido. O participante que encontrar o bombom vai ganhá-lo. O líder deve tentar esconder bem o bombom, mas especialmente em um local central, se possível (como dentro do violão depositado no centro do espaço, ou sob o possível boné do próprio líder). Ao final, o líder deve apontar o fato de que muitos presentes de Deus para nós podem ser encontrados bem na nossa frente, em lugares centrais das nossas vidas, todos os dias.

Texto inspirativo:

“De manhã cedo, quando a gente acorda, levanta da cama e faz tudo igual. E a rotina sem pedir licença, começa a ditar suas regras sem dó. A alegria da gente se vai, a vida é só palidez, disposição é o que resta pra gente ter. […] A gente pode acordar de manhã e viver uma vida bem diferente. Seguir em frente, olhar para Cristo, esquecer-se das coisas que ficam pra trás. Ele promete renovar as forças daquele que Nele esperar e assim voar como águia, correr e não se fatigar. Só quando Jesus entra na história da rotina, coisas velhas se tornam novas a cada manhã. Jesus dá cor à vida, Jesus dá vida à vida, Jesus é a razão de ser feliz.”

Canção Rotina, álbum Das Coisas Boas da Vida, de Carol Gualberto, composta por Vania Sathler Lage.

Conteúdo:

“Vejam os passarinhos que voam pelo céu: eles não semeiam, não colhem, nem guardam comida em depósitos. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os passarinhos? Vejam como crescem as flores do campo: elas não trabalham, nem fazem roupas para si mesmas. Mas eu afirmo a vocês que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como essas flores.”

Mt. 7. 26, 28.

A monotonia não parecia um desafio assim tão grande antes da invenção das redes sociais. De uns anos para cá, porém, qualquer pessoa na tela parece viver uma vida bem mais interessante do que a nossa, em seu constante carrossel de sorrisos filtrados. Para onde foram as tardes de quarta-feira tediosas dessas pessoas, difícil saber.

Somos tentados, assim, a ter problemas com a ideia de repetição cotidiana. Achamos que precisamos colecionar aventuras para ter uma vida mais interessante. Quem sabe a adrenalina nos salve de uma existência insignificante.

Enganos, você sabe. A vida sempre emocionante das pessoas nas redes sociais é um engano calculado. Até uma máquina quebra se permanecer em alta rotação tempo demais. Ninguém tem uma vida assim tão interessante quanto parece. E que bom. Porque essa sede humana por experiências emocionantes também é um engano. Mais do que isso, há quem chame essa rejeição à “mesma coisa de sempre” de tentação diabólica, mesmo.

Era o que pensava C. S. Lewis, na voz fictícia de um professor demônio que ensina seu ofício a outro, no clássico Cartas de um diabo ao seu aprendiz:

“O maior triunfo de todos é elevar esse horror pela ‘mesma coisa de sempre’ ao status de uma filosofia, […]. Substitua a própria fé por alguma moda com colorido cristão. Trabalhe em cima do horror que eles sentem à ‘mesma coisa de sempre’. O horror à ‘mesma coisa de sempre’ é uma das paixões mais valiosas que produzimos no coração humano — uma fonte infindável de heresias na religião, de desatino no aconselhamento, de infidelidade no casamento e de inconstância na amizade.”

Faz sentido, infelizmente. O frenesi por experiências emocionantes embaça nossos olhos e nos impede de enxergar toda a incrível beleza depositada por Deus nas entrelinhas da nossa vida mais comum. A própria jornada do povo de Israel pelo deserto, no Antigo Testamento, nos mostra que experiências emocionantes de mares abertos, pães do céu e nuvens de fogo não impede o coração humano de trocar o Deus verdadeiro por um ídolo inútil. O afã tolo pelo extraordinário tempo o triste poder de nos cegar para a beleza do ordinário. Como tantos filmes da Sessão da Tarde nos ensinam, a paixão por alguém aparentemente incrível nos cega para o amor que sempre esteve debaixo dos nossos narizes, nos dias mais comuns.

Jesus também perece ter tentando ensinar algo parecido no Sermão do Monte. Em certa altura, Jesus tenta convencer seus seguidores de que, ao invés de entupir seus dias de compromissos profissionais que aparentemente vão trazer segurança, era bem mais importante simplesmente ser capaz de parar e admirar os mesmos passarinhos de sempre fazendo seu mesmo voo de sempre no mesmo céu de sempre. Menos ansiedade, mais contemplação. No coração de Jesus, era também mais valioso desacelerar e visitar jardins temperados dos mais comuns lírios do campo do que envelhecer exausto tentando se vestir com a mesma grife de Salomão. Menos velocidade, mais um passo depois do outro. Afinal, toda beleza fica borrada nos olhos de quem corre demais.

Já disse Chesterton que “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns”. O dia a dia repetitivo é a fonte mais confiável e inesgotável de presença de Deus aos olhos limpos, corações atentos e almas humildes. Foi o mesmo Chesterton quem descreveu a capacidade que o Criador quer depositar em nós de exultar na monotonia:

“Poderia ser verdade que o sol se levanta regularmente por nunca se cansar de levantar-se. Sua rotina talvez se deva não à ausência de vida, mas a uma vida exuberante. O que quero dizer pode ser observado, por exemplo, nas crianças, quando elas descobrem algum jogo ou brincadeira com que se divertem de modo especial. Uma criança balança as pernas ritmicamente por excesso de vida, não pela ausência dela. Pelo fato de as crianças terem uma vitalidade abundante, elas são espiritualmente impetuosas e livres; por isso querem coisas repetidas, inalteradas. Elas sempre dizem: ‘Vamos de novo’; e o adulto faz de novo até quase morrer de cansaço. Pois os adultos não são fortes o suficiente para exultar na monotonia. Mas talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. É possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: ‘Vamos de novo’; e todas as noites à lua: ‘Vamos de novo’. Talvez não seja uma necessidade automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las. Pode ser que ele tenha um eterno apetite de criança; pois nós pecamos e ficamos velhos, e nosso Pai é mais jovem do que nós. CHESTERTON, G. K., Ortodoxia.

Na matemática final da vida, todos teremos mais dias iguais uns aos outros do que diferentes entre si. Mas, em cada um deles, e em cada pássaro, e flor, e amigo, e esposa, e marido, e pai, e mãe, e filho, e amigo e versículo, Ele fala, para quem realmente escuta. Que a gente aprenda a escutar.

“Só quando Jesus entra na história da rotina, coisas velhas se tornam novas a cada manhã. Jesus dá cor à vida, Jesus dá vida à vida, Jesus é a razão de ser feliz.”

Perguntas para discussão:

  1. Você se entedia com facilidade? Você tem o costume de recorrer à Bíblia e à oração ao se sentir entediado, ou você recorre mais rapidamente a filmes, séries e outras ferramentas?
  2. Você já sentiu de repente falta de algo que você desfrutava diariamente, como a comida da sua mãe após mudar da casa dos seus pais, ou da presença de alguém próximo que você perdeu? Você consegue pensar em algo comum, hoje, que é um grande presente de Deus para você e sobre o que você precisa agradecer mais?

Dicas:

Livro Liturgia do Ordinário, Tish Warren.
Livro Cartas de um Diabo ao seu aprendiz, C. S. Lewis.
Livro Ortodoxia, G. K. Chesterton.
Música Rotina, Carol Gualberto.

Dicas para aprofundar a reflexão:

  1. Nos próximos dias, faça um esforço intencional para afastar estímulos ao seu redor, como celular, televisão ou o rádio do carro, e fique sozinho com o suposto tédio da sua rotina. Aproveite o silêncio para olhar em volta e procurar os pássaros, as flores, as pessoas, os sorrisos e a beleza do mundo. Aproveite esse momento de silêncio cotidiano especialmente para orar e pedir a Deus que limpe seus olhos do descontentamento e da insatisfação que nascem da busca por experiências extraordinárias.