Sermão

Outro paradigma de renovação

Texto: Colossenses 3.1-17

Cacau Marques é casado com Natália. É pastor na Igreja Batista Vida Nova em Nova Odessa – SP e professor no Seminário Teológico Batista de Campinas.

 

Introdução:

  • Novo e antigo são adjetivos relacionados ao tempo. Como tais, estão inseridos na nossa visão linear da existência. O antigo vem antes, o novo vem depois.
  • Em nossa atual polarização ideológica, esses elementos assumem significados próprios. Ao novo pertencem a revolução, a transformação de papéis sociais, a inovação tecnológica e científica. Ao antigo compete a tradição, os valores morais, os costumes estabelecidos. A dicotomia progressista-conservador segue a linearidade do velho-novo. Um progride para o que surgirá enquanto o outro luta para conservar o que já existe.
  • A Bíblia bagunça essa linearidade. Ao mesmo tempo em que Jesus fala de um vinho novo que pede odres novos (Mc. 2.22), Deus, em Jeremias, nos manda procurar por caminhos antigos (Jr. 6.16).
  • Engana-se que o caminho bíblico seja o de um meio-termo entre passado e futuro. O que encontramos nas escrituras, em especial nesse texto, é outro paradigma de renovação. No lugar de novo-antigo, o texto nos convida a uma renovação na direção de Jesus.
  • A cruz é onde morre o velho homem (v.3) e o Cristo ressurreto agora é a vida do novo homem (v.4). Renovar-se não é ser mais moderno. É revestir-se de Cristo (v.10).
  • Nesse texto, encontramos quatro sentidos para os quais a renovação cristã deve apontar.

Aplicações:

  • Renovação para a Santidade (vv. 5-10)
    • Os colossenses enfrentavam um falso ensino. Dentre os erros dos falsos mestres, estava o rigor ascético como forma de elevação espiritual (Cl. 2.20-23).
    • Paulo argumenta que as proibições da heresia colossense não eram eficientes em relação à vida espiritual.
    • É certo que, para nos revestir de Cristo, o apóstolo nos pede primeiro que nos dispamos das obras típicas do velho homem (vv. 5, 8, 9). Essas proibições são bem diferentes daquelas impostas pelos falsos mestres. Estes ensinavam a o rigor com o corpo, que deve ser entendido como castigos autoimpostos visando ganhos espirituais. As proibições do capítulo 3 são de outra natureza. São abandono do pecado que caracteriza uma vida separada de Deus.
    • Mas a santificação não tem apenas esse aspecto “negativo”. Não somos santificados apenas por abandonarmos más obras. Precisamos também nos revestir do novo homem (vv. 10,12,13).
    • Esse novo homem é segundo a imagem do criador (v. 10). No capítulo 1, o apóstolo já tinha dito que a imagem de Deus é Jesus (Cl. 1.15). Dessa forma, a verdadeira santificação não é uma lista de proibições, mas um revestimento de Jesus mesmo. Ser santo é ser mais parecido com nosso Senhor.
  • Renovação para a Unidade (v. 11-13)
    • Um dos efeitos da nossa renovação segundo Jesus Cristo é a formação de um corpo unido. Se cada um de nós se parecer mais como Jesus, logo seremos todos um nEle.
    • Por essa razão, as categorias mundanas com as quais somos identificados não podem resultar em separação. Raça, sexo, classe social, inclinações políticas, nada disso deve falar mais alto do que o fato de que Cristo é tudo em todos (v. 11).
    • É importante frisar, contudo, que as diferenças continuam existindo. Elas só não nos separam. Paulo não está proclamando o fim das distinções. Grande parte do seu ministério foi voltada à luta contra os judaizantes que queriam uniformizar a cristandade submetendo todos aos mesmos símbolos culturais. A sua insistência em afirmar que gentios não precisavam virar judeus para serem de Cristo estabelece o princípio da unidade em diversidade que pauta a nossa comunhão cristã. Unidade não é uniformidade.
    • O que caracteriza a comunidade cristã não são seus sinais culturais específicos (como roupas, comidas, marcas no corpo), mas a forma como tratamos uns aos outros (v. 12,13).
  • Renovação para a Palavra (v. 16)
    • Se queremos ser renovados segundo a imagem de Deus, não podemos ignorar o que Ele nos fala. No versículo 16, há três detalhes interessantes sobre o relacionamento renovador do cristão com a Palavra.
      1. “Palavra de Cristo” vai além dos escritos do Antigo Testamento a que Paulo frequentemente faz referência em duas cartas. O ensino de Jesus mesmo e dos apóstolos também entram nessa categoria.
      2. Além das palavras de Jesus e dos apóstolos, que comporiam o Novo Testamento, a expressão “palavra de Cristo” também faz referência ao próprio Senhor como Palavra de Deus. Assim como Jesus é a Palavra que habitou entre nós (Jo. 1.14), a sua Palavra vem habitar em nós também. O desejo do apóstolo não é de que simplesmente conheçamos as Escrituras, mas que aconteça em cada um de nós a encarnação do seu poder em atitudes transformadas.
  • Até esse ponto, o verbo mais usado por Paulo para descrever a nova vida em Cristo foi “revestir”. Mas, nesse momento, Paulo usa o verbo “habitar”. Há uma relação entre o interior e o exterior aqui. Ser habitado pela palavra de Cristo é ser transformado internamente, para ter atitudes exteriores também modificadas. A Palavra de Cristo no coração do crente é a fonte da renovação da sua atitude.
  • Renovação para o Amor (v.14)
    • Dentre todas as características da vida renovada presentes nesse texto, uma se destaca: o amor. O apóstolo diz que devemos nos revestir do amor “acima de tudo”.
    • Para Paulo, o amor cumpre toda a lei (Rm. 13.8-10; Gl. 5.14).
    • Toda renovação segundo Jesus deve produzir em nós mais amor. Tudo o que nós afasta de uma vida mais amorosa nos afasta também de Cristo. O apóstolo João nos ensina que o amor é uma forma de Deus habitar em nós (1 Jo. 4.12) e Paulo lembra que o amor é a maior virtude, mais até do que fé, esperança, conhecimento, profecia, línguas de anjos etc. (1Co.13).
    • Uma igreja renovada será uma igreja que ama mais. Ama como o próprio Cristo nos amou.

Conclusão:

  • A igreja precisa de renovação. Os crentes precisam de renovação. Mas essa renovação não é mera modernização. É uma formação segundo a imagem de Cristo, provendo mais santidade, unidade, palavra e amor.